terça-feira, 1 de maio de 2012

Galeano explica como o primeiro de maio foi varrido da memória estadunidense #mayday #diadotrabalhador


Está no Livro dos Abraços de 1991 o pequeno fragmento de texto com o título desmemoria/4 do uruguaio Eduardo Galeano. Nele, o escritor fala sobre sua visita à cidade de Chicago onde queria muito ver com os próprios olhos os locais dos acontecimentos daquele primeiro de maio de 1886, quando a greve pela jornada de 8 horas deu origem ao assassinato de lideranças do movimento operário conhecidas como os mártires de Chicago. Procurou, procurou e nada encontrou. Segue a história contada por Galeano:

Chicago está cheia de fábricas. Existem fábricas até no centro da cidade,ao redor do edifício mais alto do mundo. Chicago está cheia de fábricas, Chicago está cheia de operários.

Ao chegar ao bairro de Heymarket, peço aos meus amigos que me mostrem o lugar onde foram enforcados, em 1886, aqueles operários que o mundo inteiro saúda a cada primeiro de maio.

— Deve ser por aqui — me dizem. Mas ninguém sabe. Não foi erguida nenhuma estátua em memória dos mártires de Chicago na cidade de Chicago. Nem estátua, nem monolito, nem placa de bronze, nem nada.

O primeiro de maio é o único dia verdadeiramente universal da humanidade inteira, o único dia no qual coincidem todas as histórias e todas as geografias, todas as línguas e as religiões e as culturas do mundo; mas nos Estados Unidos, o Primeiro de maio é um dia como qualquer outro. Nesse dia, as pessoas trabalham normalmente, e ninguém, ou quase ninguém, recorda que os direitos da classe operária não brotaram do vento, ou da mão de Deus ou do amo.

Após a inútil exploração de Heymarket, meus amigos me levam para conhecer a melhor livraria da cidade. E lá, por pura curiosidade, por pura casualidade, descubro um velho cartaz que está como que esperando por mim, metido entre muitos outros cartazes de música, rock e cinema.

O cartaz reproduz um provérbio da África: Até que os leões tenham seus, as histórias de caçadas continuarão glorificando o caçador.

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