quinta-feira, 7 de junho de 2012

Chegou ao fim a greve do peão em Fortaleza. Fica a pergunta: mesmo com reajustes tão baixos ela foi vitoriosa?

Recebi e-mail de um companheiro com o comunicado do sindicato patronal da construção civil de Fortaleza sobre o fim da greve da categoria. Junto com o comunicado ele me encaminhou a seguinte pergunta: "a greve foi vitoriosa? Não achei que os reajustes tenham sido bons!". Esse é um questionamento muito importante em especial depois de uma greve de 28 dias (nas contas dos operários) e 31 (na da patronal que contabiliza seu próprio lockout como sendo parte do movimento paredista). Não sou nenhum especialista em lutas sindicais nem muito menos tenho autoridade de um dirigente sindical ou um de seus partidários, mas ainda assim me atrevo a esta pequena análise.

Primeiro vamos dar uma examinada nos novos vencimentos dos quatro pisos mais baixos os comparando com os valores de 2011. Fiz uma tabelinha pra tentar enxergar melhor o que meu amigo avaliou de reajuste "não bons" conforme segue:


Se avaliarmos a greve simplesmente do ponto de vista econômico é difícil de fato conseguir enxergar uma vitória mesmo com um índice de reajuste beirando os 10%. Índices as vezes costumam esconder a realidade. Dez por cento de muito pouco é sem dúvida alguma quase nada. Alguém em sã consciência consegue enxergar, não digo nem como justo, mas como digno, um reajuste R$ 61,50 para um servente? Alguém consegue crer que com R$ 639,00 um trabalhador consiga sustentar sua família? É claro que não. Mas agora imagine se a greve não tivesse ocorrido e o índice acertado fosse o de 6,5% proposto pela patronal. Estaríamos falando de um salário de R$ 615,00 que é inferior ao mísero salário mínimo nacional de R$ 622,00.

Mas como disse não se pode enxergar o resultado somente do ponto de vista econômico. O que vimos este ano foi uma quebra de braço duríssima entre classes sociais com interesses diametralmente opostos. Nunca se viu a patronal fortalezense descontar o salário dos grevistas e não se dispor a negociar ou compensar. Nunca se viu os canteiros de obra da capital trancarem suas portas e não reconhecerem o fim da greve decretado pelos trabalhadores. Nem muito menos chegamos a ver pedreiros e serventes se manterem parados mesmo com sua greve tendo sido decretada ilegal e com uma multa diária para seu sindicato de R$ 50.000,00.

O que fica de resultado dessa batalha é um aprendizado político para esses trabalhadores que nenhuma escola ou professor conseguiria fazer um peão entender em 28 dias. Isso não é mensurável em índices ou números e ajuda a preparar novas batalhas. Talvez esse aprendizado tivesse sido ainda maior se por acaso a categoria tivesse outros fóruns além da própria diretoria e das assembléias para se preparar para um enfrentamento como esse exercitando a democracia operária cotidianamente. Mas o fato da vitória econômica não ter sido do tamanho que a categoria precisa ou quem sabe somente um pouco maior não a transforma em derrota. Então voltando ao questionamento do meu amigo: no fim das contas foi ou não vitoriosa? Eu respondo: sim meu camarada, foi uma belíssima vitória.

2 comentários:

  1. isso ai, uma belissima vitória!
    só um detalhe sobre o texto. este ano, além das assembleias e de reunião da diretoria (que acho teve poucas reuniões), houve a formação de um comando de greve que reunião todo dia, pela tarde, cerca de 30, 40 peões que avaliavam o dia de luta e armavam o próximo. ;)
    abç, 'Julinha'.

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    1. Oi Julinha,

      Fico muito feliz de você ter deixado um comentário aqui no blog. Muito bom saber que o comando de greve ocorreu com operários da base. Obrigado por complementar.

      Na verdade quando falo em fóruns para exercitar a democracia operária no cotidiano quis me referir em exercício para além do próprio periodo grevista. É o trabalho de base organizado dando poder cotidiano a serventes e pedreiros que não estão na diretoria. Sem isso o próprio comando de greve é enfraquecido, percebe? Os trabalhadores precisam ser chamados a pensar e a conduzir não somente na hora do pega pra capar e não somente sobre a campanha salarial. É um exercício permanente de preparação das futuras lideranças da categoria para além da própria diretoria. É a construção do poder operário.

      Não é nada fácil. Mas é essencial para qualquer projeto socialista. É preciso tirar a "organização de base" do papel e das boas intenções. Sei que você me entende.

      Abraços enormes e muito obrigado por ter visitado o blog e ainda me presenteado com um comentário.

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